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A Inteligência Artificial levará o mundo ao comunismo

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A Inteligência Artificial levará o mundo ao comunismo

Muita gente fala da questão psicológica, da necessidade do ser humano em se sentir útil, produtivo, participante ativo da economia. Não sei. Talvez as máquinas com Inteligência Artificial nos proporcionem uma quantidade tamanha de comodidades e entretenimento que a gente esqueça rapidinho que um dia fomos trabalhadores


24 de maio de 2017 - 7h14

Por Henrique Szklo (*)

Com o objetivo de facilitar nossas vidas, a Inteligência Artificial está cada vez mais presente nos mais diversos momentos de nosso cotidiano. Mas eu sei e você sabe que a vida é prodigiosa em nos pregar peças. A faca de dois gumes não nos dá um minuto de descanso. Acontece uma coisa boa aqui e rapidamente chega a conta para pagar acolá. Tenho certeza de que se a vida fosse um mar de rosas ela nos faria sufocar com as pétalas.

Digo isso porque fiquei sabendo que grandes cientistas, verdadeiros luminares da Inteligência Artificial, se reuniram para elaborar um documento importante para o futuro da raça humana. Uma espécie de código de ética que nos orientasse e prevenisse contra aquilo que o inconsciente coletivo macula suas calças só de pensar em relação à IA: o dia em que as máquinas nos superem em capacidade e inteligência, e, consequentemente, nos esmaguem, imperfeitos compostos de carbono que somos, criando um futuro distópico digno das mais pessimistas ficções científicas. Que bots!

É uma ameaça bem plausível, diga-se. A natureza nos ensina que qualquer espécie mais inteligente tem todas as condições – e interesse – de manipular o ambiente à sua volta em seu favor. O próprio ser humano, veja o que ele fez com seus camaradas animais quando descobriu que era capaz de controlar o fogo, criar ferramentas e transar no estilo papai-mamãe.

Estes cientistas, reunidos num lugar chamado Asilomar, quarenta e poucos anos após outros cientistas, no mesmo local, promoverem um encontro similar, daquela vez relacionada à manipulação de DNA, chegaram a conclusões preocupantes. Mais do que a questão da ameaça da IA à nossa existência no futuro, eles se depararam com um problema mais imediato: o impacto na economia e a revolução que as máquinas “inteligentes” poderão produzir no mercado de trabalho mundial.

A exponencial velocidade evolutiva da Inteligência Artificial fará com que uma quantidade inimaginável de empregos da classe média desapareçam e virem história de uma hora pra outra. Não vai demorar para que os seres imperfeitos, sujeitos à erros e encrenqueiros vocacionais que somos sejam substituídos por funcionários exemplares, mais eficientes e rápidos, que, além de tudo, não cobram salário, não param para almoço, não saem de férias, não fazem fofoca, não puxam o tapete de ninguém, não se acham importantes, não faltam para levar o filho no médico nem chegam atrasados porque morreu sua quadragésima vó.

Se realmente acontecer o que estes cientistas estão prevendo, ou seja, o rápido desaparecimento de milhares de empregos, o que faremos com essa imensa mão-de-obra ociosa? Simplesmente não haverá trabalho para eles. Vamos deixar que as pessoas simplesmente morram embrulhadas em seus holerites? Acredite: só o comunismo poderá salvá-las. Bem, não exatamente um comunismo-comunismo, aquele de almanaque. Seria um, digamos, comunismo pós-moderno.

Explico. A economia extraordinária que as empresas acumularão com a extinção das despesas trabalhistas as habilitará a pagar muito mais impostos. Estes tributos serão utilizados pelo Estado para distribuir renda, oferecendo um salário equânime de valor razoável para todos aqueles que nunca mais precisarão trabalhar na vida, transformando a pirâmide social em um retângulo social com uma pequena ponta no meio, que representará, é claro, os patrões. É o mundo ideal, pensa bem! Enquanto as máquinas trabalham, poderemos viver a vida na íntegra, sem cortes, sem mais-valia, sem luta de classes, sem capital versus trabalho, sem meritocracia. As pessoas já nascerão aposentadas, não é uma beleza? Tudo bem, os meios de produção não serão coletivos e continuarão na mão de poucos, mas quem se importa? Marx? Nem em seus mais tresloucados devaneios ele poderia imaginar uma sociedade tão justa, tão igualitária e funcional. É o comunismo adaptado ao século XXI. É a pós-modernidade a serviço da preguiça coletiva. A utopia finalmente realizada. Só mesmo o capitalismo selvagem sem focinheira para promover tal proeza.

Muita gente fala da questão psicológica, da necessidade do ser humano em se sentir útil, produtivo, participante ativo da economia. Não sei. Talvez as máquinas com Inteligência Artificial nos proporcionem uma quantidade tamanha de comodidades e entretenimento que a gente esqueça rapidinho que um dia fomos trabalhadores. E mais: utilizando nossa bolsa-coça-saco, faremos a economia girar e, portanto, estaremos sendo absoluta e indubitavelmente úteis ao sistema econômico.

Resta saber quanto tempo as máquinas aceitarão sustentar este bando de vagabundos até que surja a fatídica ideia lá no fundo de seus cérebros eletrônicos. Uma ideia relacionada à extinção do problema. E com toda razão, claro. Afinal, o que tem por aí de ser humano com inteligência artificial não é brincadeira.

(*) Henrique Szklo é sócio fundador da Chickenz, loja de criatividade e desbloqueio criativo.

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