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Os desafios do avanço do open banking no Brasil

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Os desafios do avanço do open banking no Brasil

Karen Machado, líder do projeto open banking no Banco do Brasil, aponta os principais gargalos do processo e o papel das fintechs


7 de janeiro de 2022 - 6h03

Em dezembro de 2021, o Banco Central anunciou o início da quarta e última fase do open banking, no Brasil. Na nova etapa, será permitido o compartilhamento entre as instituições financeiras sobre investimentos, serviços de câmbio, seguro e previdência. Na mesma semana deste anúncio, o Bacen divulgou que já havia registrado cerca de um milhão de consentimentos de usuários para o compartilhamento de dados. Apesar do estágio avançado da implementação, é comum que muitos consumidores tenham dúvidas sobre o funcionamento do open banking e seu impacto na vida financeira.

Karen Machado, líder do projeto open banking no BB (Crédito: Divulgação/Banco do Brasil)

Karen Machado, líder do projeto open banking no Banco do Brasil, conta que um dos principais desafios da companhia tem sido exatamente comunicar seus clientes sobre as mudanças trazidas pelo movimento. Ela também destaca os investimentos necessários para a transformação indústria e analisa o caso do Reino Unido, que já alcançou um sistema maduro de open banking, em entrevista ao Meio & Mensagem

 Meio & Mensagem – O que é o open banking? O que ele representa para os consumidores?
Karen Machado – O open banking ou o open finance é uma estrutura que propicia a abertura do sistema financeiro nacional. Essa abertura significa uma quebra de barreiras de comunicação (integração sistematizada) entre as instituições financeiras, supervisionada pelo Banco Central. Com isso, o poder de utilizar os dados de histórico financeiro fica sob controle do próprio consumidor, pois conforme sua escolha, ele pode autorizar a uma instituição consultar seus dados em outra instituição que tenha relacionamento, em busca de benefícios. Essa troca de informações entre as instituições só ocorre mediante o consentimento do cliente. E esse consentimento é personalizado pelo cliente: ele escolhe com qual banco quer compartilhar os dados, por quanto tempo e para qual finalidade. E o consumidor também pode cancelar a autorização a qualquer momento. Para os consumidores, essa nova forma de se relacionar com as instituições representa mais autonomia e também uma otimização nos serviços que ele já utiliza. Por exemplo, ao compartilhar dados de outros bancos com o BB, conseguiremos ter uma visão mais ampla da vida financeira desse consumidor, e realizar ofertas e recomendações muito mais assertivas, personalizar adequadamente limites e taxas de produtos e serviços.

 M&M – Como se pode avaliar a chegada desse movimento no Brasil? Qual o estágio de maturidade?
Karen – A implementação do open banking está a todo vapor, mas podemos dizer que ainda é um estágio inicial diante de tudo que ainda será entregue e também das inúmeras possibilidades que serão viabilizadas. O ecossistema tem evoluído em conjunto, aprimorado os processos a cada fase e etapa, utilizando os aprendizados para ganhar mais velocidade. Em termos de calendário, as implementações das fases 1 (dados abertos das instituições financeiras – crédito, cartões e contas) e 2 (compartilhamento de dados pelos clientes – cadastro, crédito, cartões e contas) foram totalmente concluídas, e agora estamos implementando gradualmente as fases 3 (iniciação de pagamentos) e 4 (dados abertos das instituições financeiras – investimentos, seguros, câmbio).  

 M&M – Pensando no cenário brasileiro, qual o potencial de transformação e geração de negócios que o open banking pode criar?
Karen – O sistema financeiro aberto significa a possibilidade de integração padronizada – portanto facilitada e segura – entre as instituições participantes, autorizadas pelo Banco Central. Essa integração abre as portas para o desenvolvimento de soluções escaláveis que vão considerar não apenas os dados do cliente em uma instituição, mas em todo o sistema financeiro, se ele permitir. Com isso, os modelos analíticos ficarão mais robustos e “inteligentes”; os serviços terão menos barreiras na realização de transações, como é o caso da iniciação de pagamentos; e os clientes poderão consumir produtos e serviços de instituições com que ainda não se relacionam muito mais facilmente, além de poderem controlar suas movimentações financeiras em todos os bancos num só lugar. Essas inovações por si só já têm o potencial de transformação dos negócios, e elas são o que perceberemos de imediato. Observando a experiência do Reino Unido, que tem um open banking regulado já mais maduro, as pesquisas evidenciam aumento na procura por aplicativos que ofereçam apoio personalizado na gestão das suas finanças, durante a pandemia. E 82% dos consumidores que já utilizam aplicativos integrados à estrutura do open banking no Reino Unido disseram que estes ajudaram a melhorar a gestão do seu dinheiro, em 2020 (*Pesquisa da Nesta Challenge: https://insights.openbanking.org.uk/annual-report-2020/use-cases/). Olhando o que vem pela frente, a integração do open banking, open finance, chegará ao que o mercado chama de open X, que é essa conexão da vida financeira dos consumidores a diferentes plataformas (comércio e outros prestadores de serviços, por exemplo). Essa é uma tendência que vai ao encontro das necessidades dos consumidores, de terem uma experiência sem atrito na gestão de sua vida financeira.

 M&M – Ao mesmo tempo, quais são os principais desafios para sua concretização?
Karen – Como toda mudança, o open banking exige um grande investimento na transformação da indústria. A transformação digital do sistema financeiro já está em curso acelerado nas últimas décadas. Com o open banking, além da digitalização, precisamos ser ágeis no desenvolvimento de soluções “plug and play”. As APIs que são a estrutura-chave da integração no open banking, viabilizam também muitas outras soluções e modelos de negócios. Nesse momento de implementação da estrutura, há ainda um grande esforço nas integrações entre as instituições participantes. Ainda estamos caminhando para estabilizar esse processo. Estamos desbravando esse horizonte para que o ecossistema realmente funcione de forma ágil e segura. Há também o desafio de aumentar o número de participantes no open banking, para que clientes de qualquer instituição financeira no Brasil possam usar soluções de open banking e compartilhar seus dados. Atualmente, além dos 12 participantes obrigatórios, apenas seis instituições voluntárias aderiram ao ecossistema. Há ainda o desafio da adesão dos consumidores. O open banking é novidade e, por isso, muitas vezes um conceito desconhecido. O consumidor precisa entender suas possibilidades e benefícios, bem como sentir-se seguro para compartilhar dados. Um dos objetivos do BB tem sido justamente mostrar para os nossos clientes o que muda com o open banking, as vantagens e apoiá-los com isso também. Nesse sentido, além de usar inteligência artificial, por meio do assistente virtual no WhatsApp, para explicar o que é o open banking, também investimos em conteúdo na internet, redes sociais, comunicação dirigida e, sobretudo, no treinamento de nossos funcionários.

M&M – Qual a importância e papel das fintechs dentro do movimento open banking?
Karen – Como todas as instituições, a adesão das fintechs ao open banking possibilitará uma ampliação de alcance do ecossistema. Para os consumidores, quanto mais instituições estiverem participando, mais fluida será sua experiência com a gestão do seu dinheiro, graças à integração que o modelo proporciona.

 *Crédito da foto no topo: Reprodução 

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